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terça-feira, 23 de abril de 2013

MULHERES DE LENÇO

Olá, meus queridos!  Após alguns silêncios, não tem como não fazer uso dessa fiel companheira: a palavra. 
Sou conhecida como uma pessoa que não gosta de se expor, e sou assim mesmo e gosto desse meu jeito porém, há coisas que não tem como,  mesmo porque o que vou expor diz respeito infelizmente, a o alto índice de mulheres que viveram e vivem tal experiência e enquanto atravesso rendo-me ao tempo e faço uso desse passeio nas palavras.

Forte abraço!





                                                   MULHERES DE LENÇO



            Há mais ou menos 02 meses que fujo das teclas do computador para não ter que falar de uma travessia que ora estou vivenciando, travessia essa que trás um enorme sabor amargo na boca e desce por todo o meu ser e deságua no mais íntimo da m’ alma. Mas, não é hoje que estou a me sentar para falar de como tudo começou, hoje me cento para escrever  porque tenho  obrigação de registrar esse dia, mesmo porque foi ele que me encorajou a está começando a falar dessa travessia.
           Acordei às  6 :00 h como de costume,  a rotina lá fora era a mesma, e a minha também, mas em mim havia um sentimento diferente, pois seria  hoje o dia D, onde eu ia saber quando começaria o tão falado e temido tratamento de quimioterapia. Trabalhei até às 11h e saí aparentemente normal mas, a alma e meu ser bem fragilizados, só imaginava encontrar um enorme salão com as mulheres estiradas nas macas inserindo a temida medicação, os enormes lenços disfarçando o sinal mais real da doença, as cabeças sem cabelos...  Antes de sair,  Dona Nevinha, uma senhorinha da cozinha me abraçou sem saber exatamente o que estava ocorrendo comigo, porque até então não havia dito a ninguém,  e  firmemente proferiu: tenha fé minha filha! Deus cuida de pessoas que não tem um coração bom, imagina de você, uma pessoa que todos nós sabemos, tão boa! Pela primeira vez no ambiente de trabalho, naquela travessia, as lágrimas sucumbiram às palavras, olhei para aqueles verdes olhos daquela senhora que também se emocionava e senti a presença verdadeira do amor fraterno, sem interesses, sem máscaras... Entrei no carro  e como uma criança querendo colo chorei até minha alma voltar a serenidade necessária,  peguei minha Irmã Gorette que me acompanharia naquele primeiro momento e fomos lá, enfrentar aquele lugar que já me deixava triste só de ver a cor de suas paredes,  pareciam tão  frias!  Cheguei  às 12:00 como estava marcado e de mansinho fui entrando,  não vi ninguém deitado, todos sentados, algumas mulheres com uns elegantes chapéus na cabeça, outras com um simples chapéu de crochê, ainda outras com lenços  que discorriam pelos ombros, que naquele momento por mais belos e diversificados nada tinha de belo, de estilo, de elegante, eles eram de fato, o disfarce daquele real cenário. Olhei para minha Irmã e disse-lhe, meu Deus! Eu não aguento ver isso! Dei uma olhada mais uma vez, como que me exigindo encarar meu novo espaço de convivência e vi uma senhora que logo me acenou com a mão e de imediato a reconheci, me aproximei e ela muito sorridente perguntou: veio me visitar? Onde lhe respondi- não, vim enfrentar a sua mesma batalha, ela olhou para mim  e exclamou:  é não! Eu afirmei e falei que estava muito feliz de vê-la naquele estado, ela me contou seu sofrimento detalhadamente e disse: e eu estou aqui! viva! Falando e cantando meus hinos, coisa que nunca mais havia feito. Essa senhora é professora contratada de uma escola que sou responsável,  e um certo dia o esposo veio me pedir que eu fosse até o carro levar os formulários para que ela renovasse o contrato pois ela não conseguia andar, ao me aproximar tomei um susto, aquela mulher magrinha, de cabelos longos que eu conhecia se apresentava como uma senhora gorda,  toda inchada e sem um cabelo na cabeça e o pior, não conseguia dizer uma palavra, só riu com os olhos e eu lhes disse que ia dar tudo certo, depois desse contato ela se foi e eu disfarçadamente fui ao banheiro da repartição onde trabalho e chorei, chorei muito por aquela mulher, lavei o rosto e recomecei meu trabalho, e encontrar aquela mulher ali, os cabelos já voltando, conversando,  e me dando força... era de fato sinais bons, para dias tão difíceis. Ao seu lado uma senhorinha dos seus 60 anos, com uma chapeuzinho de tricô azul falou:  o meu também foi  na mama, baixou , a blusa e me mostrou o oco da sua mama, sem vida, sem formato, perguntei se havia tirado  a mama, onde me respondeu:  não, foi o tratamento, mas já fiz mais tantas sessões porque ele foi para o pulmão, mas eu estou bem, tirou o chapéu e me mostrou outro caroço que estava saindo na sua cabeça sem cabelo e ainda com muita fé falou: “eu to aqui, não sinto nada de enjoo, pediu que eu tomasse muito liquido e me ensinou um remédio natural e ainda me pediu para não dizer ao médico, alegando que eles não gostam. Falei um pouco de mim, de alguns  dias que  ficava triste, e ela falou que eu não poderia ficar assim, que entregasse a Deus, e disse ainda:  “ta vendo eu, quando acordo agradeço por está viva para mais um dia, quando vou dormir digo a Deus, quero muito mais uma noite, mas se não der,  tudo bem, deito minha cabeça no travesseiro e durmo e assim vou levando a vida, e ainda disse com um sorriso escancarado de alguns poucos dentes, quero  lhe ver bem. Voltei ao meu lugar para conversar com minha irmã e ela apontou para outra senhora,  tá vendo aquela senhora? 87 anos, já teve no útero e nos ossos e hoje tá aqui só fazendo exames de revisão, sua neta contou sua história e disse que ela nunca teve reação nenhuma, fez quimioterapia e radioterapia, mas, não parava de fazer as atividades domésticas; não teve enjoos, nada, só o cabelo que caíra e hoje que voltou ao normal a neta que dar uma cortadinha  e ela muito vaidosa não deixa. A senhorinha ria o tempo todo, numa felicidade que poucas vezes tenho visto nas expressões das pessoas saudáveis, a neta expressou que acha que essa não reação tem a ver com as alimentações da avó que morava no sítio onde a senhorinha completou, foi também  muito trabalho minha filha, eu acordava às 5:00 da manhã e ia cortar pasto para o gado, trabalhei por muito tempo no corte da cana, tive uma vida muito dura e estou aqui hoje, pelas graças de Deus! Sua neta, moça nova, falava o tempo todo das novenas que fazia e de tudo que tinha alcançado com as promessas. 
             A Assistente do médico me chamou e entregou a solicitação do tratamento para eu ir  pedir autorização, ficamos eu e minha irmã até às 16:00h  para sermos atendidas, e quando chegou minha vez  a moça disse : essa autorização só sai daqui a 8 dias (E é porque tenho um PLANO DE SAÚDE) , voltamos, almoçamos e falamos um pouco sobre a indústria e o esquema corrupto e desumano do sistema de saúde dessa minha amada Pátria chamada Brasil.
            Mas na verdade o que me sobrou desse dia, foi a garra, a fé, a vontade de viver daquelas mulheres sem cabelos, que me encorajaram a falar pela primeira vez da minha Travessia e nesse momento vem a memória a linda música do imortal Gonzaguinha “VIVER E NÃO TER A VERGONHA DE SER FELIZ, CANTAR, E CANTAR E CANTAR A BELEZA DE SER UM ETERNO APRENDIZ....

Cida Ribeiro

Ofereço esse dia, as mulheres de lenço e chapéus do CEOC (Centro de Oncologia de Caruaru).


4 comentários:

  1. Há várias formas de Deus nos mostrar sua face e desperta em nós a fé. Parabenizo você colega pela força, coragem e determinação, é assim que tem que ser, você está nos ensinando a ir além do que os olhos podem ver relatando de forma tão pessoal e sincera a tua experiência. Acredito que muito em breve estarei lendo um texto em teu Blog chama do "VITÓRIA", onde você vai relatar a sua cura.
    Um grande beijo e um forte abraço de que está rezando e torcendo por você.
    MARCILANE

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  2. Que Deus te ilumine sempre com muita força coragem pra superar tudo de cabeça erquida. Pois vc merece tudo de bom vc é uma vitoriosa bjs

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  3. Suas palavras me deixaram em silêncio...
    Hoje, amanhã e depois, até o dia que você me mandar a mensagem que está plenamente recuperada pedirei a Força na qual Acredito que cuide de você e lhe restabeleça a saúde. Logo você estará bem, tenha certeza.

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