Estava neste exato momento diante do computador para inserir algo novo para os meus visitantes quando o telefone tocou; ao atender, era uma amiga que muito chorosa dizia: hoje é dia dos pais, não tem como sentir o contrário, nem dizer que nada sinto, a máscara caiu e estou péssima! (Ela perdera o pai há quatro anos e não tinha uma relação muito boa. Outro dia me dizia que se tivesse oportunidade de reencontrá-lo, teria outra relação, pois foi descobrindo aos poucos, que muito de sua personalidade, inclusive a de quem batalha muito, que foca objetivos... era dele e ela não conseguia ver isso por causa das coisas negativas que acabara dando mais ênfase). Escutei-a em silencio e em seguida falei que não tinha muito a dizer, uma vez que teria que abrir meu capítulo e reler e não ia ficar nada bem, preferia pular a página. Falei que tentasse ficar bem e desejei bom dia.
Mas nada é tão simples assim: virar página, ficar bem, fazer de conta... Pensei nas inúmeras máscaras que usamos para esconder nossas fragilidades, nossos medos, nossos eus e sinto que isso onera demais não aos cofres públicos, mas ao cofre mais importante, onde está guardado nossa intimidade, nossos ais, onde nos guardamos, onde de fato somos. Sabemos que numa sociedade e não é de hoje, onde há modelos para tudo e quem foge e quem arrisca viver essencialmente o que é e o que acredita tem a sentença de viver a margem, nada fácil para rasgar todas as máscaras e viver apenas a sua, mas voltemos a questão das escolhas: muitas máscaras, mas a sentença da solidão, como dizia minha querida Clarice Lispector". Não sei, apenas sinto que esses conflitos, essas fantasias, essas máscaras, esse querer ser aceito, aprovado, aplaudido.... Leva-nos a uma morte sutil e diária, mas tão sutil que nem percebemos que mais um dia se foi e não nos percebemos dentro dele, é como se tivéssemos vivendo outros personagens, resultado: fizemos tantas coisas, produzimos tanto, o dia foi tão proveitoso, mas há uma vazio, parece que a alma está sedenta... O que será?
Maria Ribeiro