Bom dia meus queridos (as)! Um dia de muitas alegrias! e que tal uma rápida leitura dessa excelente crônica de Arnaldo Jabor?
Estamos com fome de amor
Arnaldo
Jabor
Uma vez
Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do
século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida
alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.
Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e
transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas. E saem
sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam,
alcançaram sucesso profissional e, sozinhos. Tem mulher contratando homem para
dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível.
E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida? Estamos é
com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem
necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta
olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão
"apenas" dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos
nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a
carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por
não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a
cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma
olhada no site de relacionamentos Orkut, o número que comunidades como:
"Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a
desesperançada "Nasci pra ser sozinho!". Unindo milhares, ou melhor,
milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos,
plásticos, quase etéreos e inacessíveis. Vivemos cada vez mais tempo,
retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos.
Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a
escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas
de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao
seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega. Alô gente! Felicidade, amor,
todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja
ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando
bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz
é curto, e cada instante que vai embora não volta. Mas (estou muito brega!),
aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la,
quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois. Quem disse que ser
adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se um problema é grande
demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra
ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso
que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é
continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso
cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter
bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão
querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que
vou me arrepender pelo resto da vida". Antes idiota que infeliz!
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