Olá, meus queridos! Após alguns silêncios, não tem como não fazer uso dessa fiel companheira: a palavra.
Sou conhecida como uma pessoa que não gosta de se expor, e sou assim mesmo e gosto desse meu jeito porém, há coisas que não tem como, mesmo porque o que vou expor diz respeito infelizmente, a o alto índice de mulheres que viveram e vivem tal experiência e enquanto atravesso rendo-me ao tempo e faço uso desse passeio nas palavras.
Forte abraço!
MULHERES DE LENÇO
Há mais ou
menos 02 meses que fujo das teclas do computador para não ter que falar de uma
travessia que ora estou vivenciando, travessia essa que trás um enorme sabor
amargo na boca e desce por todo o meu ser e deságua no mais íntimo da m’ alma.
Mas, não é hoje que estou a me sentar para falar de como tudo começou, hoje me
cento para escrever porque tenho obrigação de registrar esse dia, mesmo porque
foi ele que me encorajou a está começando a falar dessa travessia.
Acordei às 6 :00 h como de costume, a rotina lá fora era a mesma, e a minha
também, mas em mim havia um sentimento diferente, pois seria hoje o dia D, onde eu ia saber quando
começaria o tão falado e temido tratamento de quimioterapia. Trabalhei até às 11h
e saí aparentemente normal mas, a alma e meu ser bem fragilizados, só imaginava
encontrar um enorme salão com as mulheres estiradas nas macas inserindo a
temida medicação, os enormes lenços disfarçando o sinal mais real da doença, as
cabeças sem cabelos... Antes de sair, Dona Nevinha, uma senhorinha da cozinha me
abraçou sem saber exatamente o que estava ocorrendo comigo, porque até então
não havia dito a ninguém, e firmemente proferiu: tenha fé minha filha!
Deus cuida de pessoas que não tem um coração bom, imagina de você, uma pessoa
que todos nós sabemos, tão boa! Pela primeira vez no ambiente de trabalho,
naquela travessia, as lágrimas sucumbiram às palavras, olhei para aqueles
verdes olhos daquela senhora que também se emocionava e senti a presença
verdadeira do amor fraterno, sem interesses, sem máscaras... Entrei no carro e como uma criança querendo colo chorei até
minha alma voltar a serenidade necessária, peguei minha Irmã Gorette que me acompanharia
naquele primeiro momento e fomos lá, enfrentar aquele lugar que já me deixava
triste só de ver a cor de suas paredes, pareciam tão
frias! Cheguei às 12:00 como estava marcado e de mansinho fui
entrando, não vi ninguém deitado, todos
sentados, algumas mulheres com uns elegantes chapéus na cabeça, outras com um
simples chapéu de crochê, ainda outras com lenços que discorriam pelos ombros, que naquele momento
por mais belos e diversificados nada tinha de belo, de estilo, de elegante,
eles eram de fato, o disfarce daquele real cenário. Olhei para minha Irmã e
disse-lhe, meu Deus! Eu não aguento ver isso! Dei uma olhada mais uma vez, como
que me exigindo encarar meu novo espaço de convivência e vi uma senhora que
logo me acenou com a mão e de imediato a reconheci, me aproximei e ela muito
sorridente perguntou: veio me visitar? Onde lhe respondi- não, vim enfrentar a
sua mesma batalha, ela olhou para mim e
exclamou: é não! Eu afirmei e falei que
estava muito feliz de vê-la naquele estado, ela me contou seu sofrimento detalhadamente
e disse: e eu estou aqui! viva! Falando e cantando meus hinos, coisa que nunca
mais havia feito. Essa senhora é professora contratada de uma escola que sou
responsável, e um certo dia o esposo
veio me pedir que eu fosse até o carro levar os formulários para que ela
renovasse o contrato pois ela não conseguia andar, ao me aproximar tomei um
susto, aquela mulher magrinha, de cabelos longos que eu conhecia se apresentava
como uma senhora gorda, toda inchada e
sem um cabelo na cabeça e o pior, não conseguia dizer uma palavra, só riu com
os olhos e eu lhes disse que ia dar tudo certo, depois desse contato ela se foi
e eu disfarçadamente fui ao banheiro da repartição onde trabalho e chorei,
chorei muito por aquela mulher, lavei o rosto e recomecei meu trabalho, e
encontrar aquela mulher ali, os cabelos já voltando, conversando, e me dando força... era de fato sinais bons,
para dias tão difíceis. Ao seu lado uma senhorinha dos seus 60 anos, com uma
chapeuzinho de tricô azul falou: o meu
também foi na mama, baixou , a blusa e
me mostrou o oco da sua mama, sem vida, sem formato, perguntei se havia
tirado a mama, onde me respondeu: não, foi o tratamento, mas já fiz mais tantas
sessões porque ele foi para o pulmão, mas eu estou bem, tirou o chapéu e me
mostrou outro caroço que estava saindo na sua cabeça sem cabelo e ainda com
muita fé falou: “eu to aqui, não sinto nada de enjoo, pediu que eu tomasse
muito liquido e me ensinou um remédio natural e ainda me pediu para não dizer
ao médico, alegando que eles não gostam. Falei um pouco de mim, de alguns dias que ficava triste, e ela falou que eu não poderia
ficar assim, que entregasse a Deus, e disse ainda: “ta vendo eu, quando acordo agradeço por está
viva para mais um dia, quando vou dormir digo a Deus, quero muito mais uma
noite, mas se não der, tudo bem, deito
minha cabeça no travesseiro e durmo e assim vou levando a vida, e ainda disse
com um sorriso escancarado de alguns poucos dentes, quero lhe ver bem. Voltei ao meu lugar para
conversar com minha irmã e ela apontou para outra senhora, tá vendo aquela senhora? 87 anos, já teve no
útero e nos ossos e hoje tá aqui só fazendo exames de revisão, sua neta contou
sua história e disse que ela nunca teve reação nenhuma, fez quimioterapia e radioterapia,
mas, não parava de fazer as atividades domésticas; não teve enjoos, nada, só o
cabelo que caíra e hoje que voltou ao normal a neta que dar uma cortadinha e ela muito vaidosa não deixa. A senhorinha
ria o tempo todo, numa felicidade que poucas vezes tenho visto nas expressões
das pessoas saudáveis, a neta expressou que acha que essa não reação tem a ver
com as alimentações da avó que morava no sítio onde a senhorinha completou, foi
também muito trabalho minha filha, eu
acordava às 5:00 da manhã e ia cortar pasto para o gado, trabalhei por muito
tempo no corte da cana, tive uma vida muito dura e estou aqui hoje, pelas
graças de Deus! Sua neta, moça nova, falava o tempo todo das novenas que fazia e
de tudo que tinha alcançado com as promessas.
A Assistente do médico me chamou e
entregou a solicitação do tratamento para eu ir pedir autorização, ficamos eu e minha irmã até
às 16:00h para sermos atendidas, e
quando chegou minha vez a moça disse :
essa autorização só sai daqui a 8 dias (E é porque tenho um PLANO DE SAÚDE) , voltamos,
almoçamos e falamos um pouco sobre a indústria e o esquema corrupto e desumano
do sistema de saúde dessa minha amada Pátria chamada Brasil.
Mas na
verdade o que me sobrou desse dia, foi a garra, a fé, a vontade de viver
daquelas mulheres sem cabelos, que me encorajaram a falar pela primeira vez da
minha Travessia e nesse momento vem a memória a linda música do imortal
Gonzaguinha “VIVER E NÃO TER A VERGONHA DE SER FELIZ, CANTAR, E CANTAR E CANTAR
A BELEZA DE SER UM ETERNO APRENDIZ....
Cida Ribeiro
Ofereço esse dia, as mulheres de lenço e chapéus do CEOC
(Centro de Oncologia de Caruaru).
Há várias formas de Deus nos mostrar sua face e desperta em nós a fé. Parabenizo você colega pela força, coragem e determinação, é assim que tem que ser, você está nos ensinando a ir além do que os olhos podem ver relatando de forma tão pessoal e sincera a tua experiência. Acredito que muito em breve estarei lendo um texto em teu Blog chama do "VITÓRIA", onde você vai relatar a sua cura.
ResponderExcluirUm grande beijo e um forte abraço de que está rezando e torcendo por você.
MARCILANE
Que Deus te ilumine sempre com muita força coragem pra superar tudo de cabeça erquida. Pois vc merece tudo de bom vc é uma vitoriosa bjs
ResponderExcluirObrigada por tudo!
ResponderExcluirSuas palavras me deixaram em silêncio...
ResponderExcluirHoje, amanhã e depois, até o dia que você me mandar a mensagem que está plenamente recuperada pedirei a Força na qual Acredito que cuide de você e lhe restabeleça a saúde. Logo você estará bem, tenha certeza.