Para poder morrer
Para poder morrerGuardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
É isso mesmo Hilda Hilst
E olhem que história ! CASA DO SOL E DAS ARTES, só pessoas que não foram contaminadas e escravizadas por esse sistema é que conseguem ir além, pois seus sentimentos e seus sonhos estão livres de qualquer aprovação e reprovação:
1961
foi um dos anos mais importantes para a escritora Hilda Hilst
(1930-2004). Se, por um lado, sua beleza, elevada condição social e
reconhecido talento a faziam constante presença nas colunas sociais, por
outro, vivia uma crescente angústia, havia publicado cinco livros de
poemas, mas acreditava estar muito aquém de seu potencial. Foi por esse
período que ganhou das mãos do poeta português e amigo Carlos Maria de
Araújo um exemplar de Lettreau Greco (esgotado), escrito por NikosKazantzákis e que mudaria a sua trajetória.
Impressionada
com as palavras do autor, para quem um escritor necessita se isolar
completamente para abordar o mais profundo da condição humana, Hilda
tomou uma decisão: largar seu casarão paulistano para morar em uma
chácara perto de Campinas (interior do Estado de São Paulo) e, ali,
continuar a escrever sua obra. Os 800 m² de área construída receberam o
nome de Casa do Sol. Nela, a escritora criou publicações – entre
poesia, prosa e teatro – das mais importantes do Brasil. Antes de
falecer, fez questão de compor o Instituto Hilda Hilst, um projeto cuja
missão era a de ser uma continuidade de sua própria vida ao oferecer
infraestrutura para que criadores passassem um tempo lá e criassem
obras com toda a tranquilidade.
É
esse local que, oito anos depois, está pronto para receber artistas
residentes nas mais diversas áreas de atuação. “Temos espaço para dois
residentes não bolsistas. Basta contatar pelo site
www.hildahilst.com.br descrevendo o motivo do interesse em morar na Casa
do Sol”, diz o presidente da entidade, Daniel Fuentes. “Faremos
entrevistas para seleção. Quando for a época ideal, será elaborado um
edital público com regras claras e banca de seleção de projetos.
Dependendo dele, os períodos podem flutuar entre três, seis e 12
meses.”
Hilda foi epígrafe de Caio
Um dos vários artistas que passaram certo tempo na Casa do Sol foi Caio Fernando Abreu. Gil Veloso, autor de Fábulas farsas
e amigo do escritor nos seus últimos 10 anos de vida, afirma que ouviu
dele várias vezes sobre como foi importante essa breve estadia. “Foi
uma espécie de rito de passagem do Caio para a sua profissionalização
na literatura, quando aprendeu com Hilda toda a disciplina necessária
no estudo e reflexão diários e de como o escritor se faz como leitor”.
Entre
1968 e 1969, durante a ditadura militar, Caio fugia da repressão e
intercalou temporadas clandestinas entre São Paulo, Rio e Campinas. Em
1970, publica o primeiro livro,Inventário do ir-remediável(esgotado),
dedicado à autora. “Foi na Casa do Sol que este romance tomou forma e
selou a amizade para toda a vida”, salienta o especialista. “Hilda foi
uma espécie de epígrafe do Caio, no sentido de pedir passagem,
anunciar.”
FONTE: REVISTA CULTURA
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