A DERIVA
Há muito não
sentava em um ponto de ônibus e sem pressa esperar minha vez de retornar para
casa após um exaustivo dia de trabalho. O dia se recolhia na tarde que se
entregava aos primeiros sinais da noite, encostei a cabeça na marquise do ponto
de ônibus e observei a velha cidade em movimento, homens e mulheres corriam de
um lado para outro em um ritmo que parecia tudo, menos pessoas andando, a
impressão era que estavam participando de uma maratona e claro, todos
pretendendo chegar primeiro; rugas de preocupação na testa era o sinal mais comum, poucas trocas de olhares, nenhum cumprimento,
pareciam tão estranhos na estranheza da
individualidade. Um jovem passou e me entregou um panfleto (propaganda de um
motel), um rapaz me oferece a moto táxi, dois jovens passam e com seus secretos
códigos parecem se proteger daquela rotina, os homens e mulheres invisíveis que
limpam as ruas, recolhem os lixos da nossa pobre consciência ambiental e o panfleto
nas mãos da passageira que espera o ônibus, se transforma em um barquinho de papel,
e nele os sonhos da passageira são colocados e deixados à deriva para uma
próxima viagem.
Cida Ribeiro
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