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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ENTRE UM CAFÉ E OUTRO...

Boa noite meus queridos! Um retorno cheio de paz, saúde e muita motivação para continuar a caminhada, e entre um café e outro, o pensar pede licença para mais uma de suas artimanhas....








              Nesses dias de feriado liguei para uma amiga a fim de nos juntarmos e ir prestigiar pelo menos um dia do Carnaval de Recife Antigo, em especial no dia dos desfiles dos blocos, que, aliás, sou apaixonada, se eu não for me sinto infiel ao carnaval e ao povo que tem a rara oportunidade de “botar o bloco na rua”. Contato feito, a minha amiga aceitou e fomos lá, abraçar o carnaval do Recife  e me deleitar nas poesias e lirismo dos blocos e suas encantadoras marchinhas.Essa minha amiga é daquelas figuras que costumamos chamar,” espírito cigano”, inclusive ela já tem uma bolsa pronta para os convites de viagem; não há tempo ruim, não existe “deixa para depois”, é o aqui e agora, não há planejamento na sua vida, embora seja professora. E fomos lá: uma cerveja na mão, nada de papo de reflexão, papo de intelectual chato, nada de “com que roupa eu vou”, nada de a moda é isso, a moda é aquilo, o certo é isso, o certo é aquilo... Viver o momento e com alegria é o seu forte, não há futuro, nem passado, tudo é agora e pra já; encontramos umas colegas dela que se conheceram em uma excursão para a Argentina; uma delas falou que a viagem sem a minha amiga seria tediosa, ao mesmo tempo que comentou sobre sua pele, que embora este ano entre para a casa dos 60, conserva uma pele invejável. Em outro momento encontramos outra amiga dela, ela gritou seu nome, a colega chegou e logo partiu, percebi que a colega não queria tal companhia, mas isso não conseguiu tirar o humor e o alto-astral da minha amiga. Brincamos, rimos muito e lá pelas tantas da tarde encontramos de novo a amiga dela e dessa vez sem o marido, a minha amiga tornou a chamar e eu avisei: ela não quer conversa com você e perguntei você não percebeu?  Ao que me respondeu: mas na viagem ela me tratou tão bem, quando a colega se aproximou, imediatamente num tom leve, minha amiga brincou: deixa de ser falsa! Nem me desse cartaz! Fosse tão atenciosa na viagem... A colega se justificou dizendo que estava com o namorado e ele era muito chato, minha amiga de imediato resolveu a questão: acaba esse namoro! Rimos muito e fomos embora. Á noite fomos ver os blocos, em algum lugar uma colega que nos acompanhava gritou horrorizada: olha! Dois rapazes se beijando! Minha amiga prosseguiu a caminhada, nem olhou para verificar, apenas disse com toda naturalidade que lhe é peculiar: isso é normal! Voltamos ao hotel e a outra colega que nos acompanhava, logo que acordava tomava uns quatro comprimidos, e era a mais nova do trio das mocinhas, eu tomava dois e a minha amiga não tomava nada, fiquei observando e em algum momento no café perguntei: você não tem nenhum problema de saúde? Suas taxas são normais? ao que  me respondeu: normalíssima querida!
           Passado a euforia, retornamos para minha cidade e fiquei pensando na vida da minha amiga,  aos 60 anos o que conseguiu adquirir foi uma modesta casa, em um bairro simples da periferia onde mora com cinco galinhas,  inclusive uma delas leva o meu   nome (Cida) e  um gato, trabalha apenas um horário, não  possui cartão de crédito, não tem talão de xeque,  aliás, o  dinheiro carrega em uma mochila de plástico; sempre que conversamos sobre essas coisas ela diz sem demagogia: não vou levar nada disso quando morrer, portanto, não quero nada. Ela é ela, literalmente ela, mas para muitos ela é louca, inconsequente, irresponsável... Nada que se diga ou se pense dela a incomoda, mas de tão ela, ninguém espera nada dela e espera-se tudo que está fora do que consideramos correto. E fiquei pensando o quanto nós somos responsáveis pela imagem que criaram  da gente, e o quanto alimentamos essa imagem, às vezes nem queremos mais aquela imagem, mas alimentamos nos outros essa imagem e geramos tantas expectativas que  não temos coragem de agora desconstruí-la, pois por qualquer leve mudança, logo somos indagados: logo você com essa atitude! O que está acontecendo com você? Está tão diferente! Esperava isso de qualquer um, menos vindo de você!   E por aí vai, um  calvário que nós mesmos ajudamos construir para sermos aplaudidos; na vida há ônus e bônus para todas as nossas escolhas, minha amiga tem o ônus de não ter uma casa boa, bairro nobre, de não ter um  carro, de não ser convidada para eventos, restaurantes, festas, passeios, férias... Mas tem o bônus de dormir a noite toda e não sentir sequer uma dor de cabeça, porque vive livre dos determinismos, porque não precisa pedir permissão para viver, porque não teme os maléficos julgamentos que paralisa os normais, os que alimentaram as expectativas e respondem aos modelos de comportamento ditos corretos. Aos normais, o ônus de  algumas noites de insônia, antes de tomar uma atitude olha pra frente, pra trás e para os lados e ainda pergunta: posso? Um eterno e constante estado de alerta e tensão e na bagagem alguns choros reprimidos, alguns gritos calados, alguns passos atrofiados... e ao amanhecer alguns   comprimidos ingeridos.E é  mais um carnaval que passou, não sou aquele pierrô, mas sou aquela mulher que leva na mala da alma o eterno desejo de mudar sempre e ser feliz.

Cida
 

Um comentário:

  1. Fantástico texto. Ri ao saber que sua amiga (de quem eu já sou fã) tem uma galinha que leva o seu nome. Obrigada por escrever e partilhar o texto.

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